Figura do dia

(Foto de Serenidade)

Dia-a-dia abraço no meu regaço um pedaço de argila,
figuro com ela a beleza que vejo em minha pupila.
O intento? Sincero.
O resultado? Nem sempre o que espero!
Por vezes, moldo uma bonita flor,
que procuro tratar com muito amor.
Outras há, que moldo um riacho,
procurando que o dia flua como um bonito penacho.
No decorrer do dia a figura inicial vai-se transmutando,
pelas inesperadas situações que o vão mudando,
umas há que o vão aperfeiçoando,
outras deformando.
Umas vezes assimétrica, outras de forma bem definida,
ambas com sua beleza intrínseca.
Os dissabores distorcem-na,
são motivo para moldar uma nova forma,
melhor ou pior não se sabe,
apenas diferente, dentro da panóplia de possibilidade.
No adormecer vejo o resultado desse dia,
umas vezes analiso uma bela obra de arte,
outras a destruição de um dia que ficou de parte,
sem ser vivido e por vezes não sentido,
passa sem se viver,
vivendo-se num parecer.
Todos os dias meu lado esquerdo quer-se expressar
numa bela obra de arte transmutar,
por vezes a argila quebra-se
e meu coração adoece,
mas logo vem um novo começo
que ao meu lado esquerdo ofereço.
O amor é assim, cheio de imperfeições,
às quais peço desculpa, sem sensação de humilhação.

"Caminhe com firmeza e alegria, sem medo de tropeçar. Todos os movimentos estão a ser acompanhados pelos seus aliados, que o ajudarão no que for necessário."

- Crónicas sobre a elegância - Paulo Coelho